O que Demon Slayer tem a ensinar ao ministro Alexandre de Moraes?
A busca por redenção é uma constante na vida de todo herói. O Brasil também precisa de sua redenção — precisa de paz. Para isso, torna-se urgente uma anistia ampla, geral e irrestrita.
Demon Slayer é um anime de enorme sucesso. Seu último filme estreou ontem no Brasil, trazendo uma história emocionante com um pano de fundo central: redenção. O enredo contrapõe a raiva, o ódio, o desprezo e a violência à bondade, à persistência, à serenidade, à resiliência, ao perdão e à coragem de fazer o que é bom e correto — ainda que isso custe a própria vida. No desfecho, o filme mostra com intensidade que o poder da redenção está ao alcance de todos. Alguns personagens escolhem morrer nas trevas; outros, em seus últimos suspiros, encontram a luz e a paz eterna.
Convido o ministro Alexandre de Moraes a refletir sobre essa mensagem. Em seu momento final, caminhará em direção às trevas ou à luz? O que o move hoje: a raiva, o ódio, a vaidade — ou a busca sincera pelo que é justo e correto? Diante do fracasso, culpará os outros ou a si mesmo? Em seu último suspiro, buscará redenção ou seguirá destilando rancor?
A decisão de condenar o presidente Jair Bolsonaro a mais de 27 anos de prisão não é apenas uma sentença; é o início de uma estrada sombria. É como adentrar o Castelo dos Demônios em Demon Slayer: uma vez dentro, o caminho de volta é incerto, e cada passo torna a saída mais difícil e custosa.
Hoje, uma anistia ampla, geral e irrestrita ainda pode ser o porto seguro para todos. Postergar essa decisão é manter inocentes presos por mais de um ano. E não nos enganemos: quanto mais tempo se passar, mais cara será a saída. Dentro de seis meses, a anistia sozinha não bastará. O processo eleitoral ampliará as demandas: eleitores de direita e parte do centro exigirão também o impeachment de Alexandre de Moraes. Em pouco mais de doze meses, os conservadores — e grande parte dos liberais — estarão dispostos a apoiar um outsider, alguém até hoje desconhecido, desde que se apresente com firmeza para enfrentar o STF e propor reformas profundas na economia e na segurança pública. O risco político só crescerá.
Enquanto isso, a economia segue piorando, mas não em ritmo suficiente para enfraquecer Lula. Com Bolsonaro inelegível, Lula se torna o grande favorito em 2026. Mas será um Lula diferente: consciente de que seu apoio no Congresso encolheu; de que os ajustes econômicos ficaram empurrados para 2027; e de que dependerá ainda mais da ala radical da esquerda. Um Lula favorito, mas cada vez mais dependente do STF.
Esse caminho fortalece juízes não eleitos e enfraquece os representantes do povo. É a trilha da “venezuelização”: um governo cada vez mais arbitrário, sustentado pela Corte, contra um Congresso cada vez mais irrelevante. Nesse cenário, a democracia não sobrevive. Mas, justamente onde as trevas são mais densas, a luz precisa brilhar com mais força. E, se seguirmos assim, em cinco anos surgirão os verdadeiros Demon Slayers — e eles não virão para dialogar com demônios.
Resta a pergunta decisiva: é esse o caminho que queremos percorrer?


Excelente paralelo e texto.